Quando a glândula da tireoide não produz hormônios suficientes para suprir as necessidades do organismo ocorre o hipotireoidismo. Ele pode ser classificado como subclínico ou franco. Mas qual a diferença entre eles? Quem esclarece essa questão é o Dr. José Augusto Sgarbi, presidente do Departamento de Tireoide da SBEM.
O médico destaca que o hipotireoidismo é uma das disfunções tireoidianas mais comuns e explica sobre os sintomas, diagnóstico e os problemas que podem ocorrer durante a gestação.
Hipotireoidismo Subclínico
No hipotireoidismo a glândula tireoide não é capaz de produzir a quantidade necessária de hormônios ao organismo e os pacientes apresentam níveis de hormônios T3 e T4 Livre baixos. Porém, no hipotireoidismo subclínico, os níveis de T4 Livre, principal hormônio produzido pela tireoide, ainda estão normais. Embora a glândula já não funcione como deveria, ainda é capaz de produzir hormônios tireoidianos estimulada pelos níveis elevados de TSH. Assim o diagnóstico do hipotireoidismo subclínico é definido pela presença de níveis elevados do TSH e normais do T4 Livre na circulação sanguínea.
O Dr. Sgarbi explica que o hipotireoidismo subclínico é uma forma mais leve e inicial do hipotireoidismo, podendo afetar até 10% da população, especialmente mulheres e idosos. Apesar disso, é pouco diagnosticado, por ser usualmente assintomático ou com poucos sintomas, os quais são pouco específicos e podem se confundir com os de outras doenças.
O problema, adverte o Dr. Sgarbi, é que mesmo sendo uma forma leve e com poucos sintomas, estudos mostram que o hipotireoidismo subclínico pode associar-se com complicações graves, como infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral e depressão, entre outros. Apesar disso, adverte que não são todos pacientes que precisam de tratamento.
Hipotireoidismo Franco
O hipotireoidismo franco é a fase posterior ao hipotireoidismo subclínico. Quando os níveis de TSH estão elevados e os de T4 Livre estão abaixo dos valores de referência. Neste caso, os pacientes mais frequentemente apresentam os sintomas clássicos da doença, como cansaço, desânimo, indisposição, sonolência excessiva, sono não reparador, ressecamento da pele, queda de cabelos e unhas, depressão e dificuldade para perda de peso, entre outros.
Pacientes com hipotireoidismo subclínico podem progredir para o hipotireoidismo franco, principalmente aqueles do sexo feminino, com a concentração inicial do hormônio TSH > 10 mU/L, presença de anticorpos contra a tireoide (anti-TPO) positivos no sangue ou com alterações ultrassonográficas sugestivas de inflamação (tireoidite autoimune) na tireoide.
Hipotireoidismo Subclínico na Gestação
Os cuidados com o hipotireoidismo durante a gestação devem ser redobrados. O médico ressalta que é extremamente importante ter atenção ao TSH antes e durante a gestação. O Dr. Sgarbi explica que o desenvolvimento neurológico do feto, o qual ocorre no primeiro trimestre da gestação, é dependente dos hormônios da tireoide, nesta fase fornecidos exclusivamente pela mãe. Assim, se a mãe tem hipotireoidismo, mesmo a forma mais leve (subclínica), quando não diagnosticada e tratada, pode haver prejuízos ao desenvolvimento neurológico fetal. O médico ressalta que é extremamente importante dosar o TSH no planejamento da gravidez ou no início da gestação, especialmente nas mulheres que estão no grupo de risco (> 30 anos; antecedente familiar ou pessoal de transtornos da tireoide ou de outras doenças autoimunes como diabetes tipo 1; obesidade; radiação ou cirurgia prévia no pescoço; história de perda fetal; parto prematuro ou infertilidade; multiparidade; uso recente de amiodarona, lítio ou contrastes iodados.
Assim, crianças cujas mães não trataram o hipotireoidismo subclínico durante a gestação correm risco. “Elas podem ter dificuldade de aprendizado, retardo da linguagem, dificuldade de compreensão da linguagem escrita e falada, déficit de atenção e hiperatividade, redução do quosciente de inteligência, entre outros problemas”.
O hipotireoidismo subclínico também pode associar-se com consequências indesejáveis à gestação, entre eles o deslocamento prematuro da placenta, pré-eclampsia, prematuridade e perda fetal, conclui o médico.