Muitos problemas podem afetar o funcionamento da glândula tireoide. Dentre alguns deles, está a Tireoidite de Hashimoto, que é uma doença autoimune na qual os anticorpos produzidos pelo organismo acabam atacando as células tireoidianas e destruindo-as. Ela é a causa mais frequente do hipotireoidismo (diminuição dos hormônios tireoidianos), explicou a Dra. Laura Ward, membro da diretoria do Departamento de Tireoide.
Causas e Fatores
A endocrinologista esclareceu que não se sabe ao certo a causa para a Tireoidite de Hashimoto. Existem fatores genéticos, já que há uma herança de pré-disposição ao desenvolvimento de doenças autoimunes, mas esse desenvolvimento acontece devido a elementos que estão no meio ambiente e fazem parte de nossas vidas.
Um desses elementos – e que é considerado um dos principais desencadeadores das doenças autoimunes – é o iodo. Encontrado no sal de cozinha e em produtos manufaturados (alimentos enlatados, embutidos, relacionados ao mar como algas, peixes, mariscos e comidas japoneses, salgadinhos, sopas pré-preparadas e até mesmo no pão), o excesso de iodo pode culminar em lesões nas células tireoidianas. Essas células rompem quando estão expostas a uma quantidade grande dessa substância; além disso, o iodo pode levar a modificação de algumas proteínas da tireoide, que passam a não serem reconhecidas pelo sistema imunológico e atacadas.
No entanto, não significa que devemos eliminar o iodo da alimentação. Ele é sim importante, sendo a matéria prima de fabricação dos hormônios tireoidianos. O que se deve evitar são os excessos.
Alimentos que podem causar bócios, as chamadas substâncias bociogênicas, também podem contribuir para o desenvolvimento da Tireoidite de Hashimoto. Essas substâncias são encontradas na soja, por exemplo, e em grandes quantidades interferem na produção de hormônios tireoidianos e na sua ação no organismo.
Prevalência
A doença ocorre, principalmente, em mulheres, sendo de cinco a oito vezes mais frequentes neste público do que em homens. Segundo a Dra. Laura, esse fato pode estar relacionado à herança genética ou a ação de hormônios sexuais na detoxificação de algumas substâncias (retirar algumas dessas substâncias tóxicas do organismo) que podem causar lesões às células tireoidianas.
Além disso, quanto mais idosa for a pessoa, maior é a chance de apresentar Tireoidite de Hashimoto. Apesar disso, crianças também podem ser afetadas pelo problema.
Diagnóstico
A médica explica que para se chegar ao diagnóstico da Tireoidite de Hashimoto é importante conhecer seu quadro clínico. A doença autoimune pode ir destruindo aos poucos às células tireoidianas e essa degradação pode levar anos, além de afetar um ou mais órgãos ao mesmo tempo.
Por ano, apenas cerca de 3% a 5% dos indivíduos com anticorpos positivos desenvolve uma lesão na tireoide tão extensa para apresentar hipotireoidismo. Isso acontece, pois a nossa glândula tireoide tem muita reserva funcional e, mesmo sendo atacada, ela supre as necessidades do organismo em termos de produção de hormônios tireoidianos. Só na fase avançada da doença é que o paciente apresenta hipotireoidismo manifesto, com sintomas, mas isso pode levar anos.
O diagnóstico da Tireoidite de Hashimoto normalmente é feito de forma precoce, ainda na fase de hipotireoidismo subclínico. Isso porque é feita a dosagem do TSH, que é um exame muito sensível. Os pacientes que têm anticorpos antitireoide, principalmente o antitireoperoxidase e o antitireoglobulina (dois anticorpos que são dosados elevados) precisam fazer uma dosagem de TSH. É a partir da análise deste exame que é possível saber se os pacientes apresentam eutireoidismo, hipotireoidismo subclínico ou se já estão avançando para a fase de hipotireoidismo clínico.
Além da dosagem de TSH, Dra. Laura informou que a ultrassonografia também é um importante exame para se chegar ao diagnóstico. É através de um bom ultrassom que é possível observar as alterações causadas pelas lesões das células produzidas pelos auto-anticorpos. Segundo a médica, as células atacadas vão morrendo, necrosando e tem uma refringência diferente que um bom ultrassonografista consegue ver. Mas o ultrassom não deve ser pedido a não ser por indicação médica, já que ele é um exame muito sensível para nódulos e pode levar a confusão diagnóstica.
Tratamento
O tratamento é a reposição do hormônio que a glândula deixou de produzir. O paciente passa a tomar levotiroxina, que é o próprio T4 que deveria estar sendo produzido pelo organismo, na quantidade necessária. A dosagem do hormônio varia de acordo com a necessidade do paciente e suas características (sexo, idade, peso).
Dra. Laura destaca que é importante entender que não se trata a Tireoidite, a doença propriamente dita, mas o efeito que ela causa no paciente, que é a diminuição dos hormônios tireoidianos produzidos pela glândula lesionada.